23 de jun. de 2010

Dia incomum --- Cap 01 by "Unread"

  O dia começava simples como sempre. Ela sempre pegava o mesmo transporte coletivo, sempre ao mesmo horário e sempre com o mesmo destino. Exceto em finais de semana, quando em tempo reservado ao seu descanso ela se dava o direito de não ter de ouvir as vozes da cobrança, da pressão e do autoritarismo ecoando em sua mente a cada passar de hora do dia.
  Naquela manhã em especial os ventos não a incomodavam, pelo contrário a faziam recordar algo que de fato ainda arrancava invisivelmente sorrisos de souslaios em sua face que sequer ela os percebia.
  Ela apenas se recordava de como fora entusiasmante sua noite passada, por mias simples que tivera sido, já era fascinante o fato de haver surgido algo novo, bem contrária às últimas oitocentas noites anteriores.
  Não fazia idéia do quão notável era sua aura, cheia de brilho e de cor e nem  como podia haver agora motivo tão importante que a fizesse viajar. Não sonhava, nem planejava nada, apenas se esvaziava de toda a realidade contida naquela rotina monótona.
  Moça bonita, só não sabia explorar sua beleza, de forma sutil, delicada e simples que se pode ser. Ela preferia se encostrar por detrás de uma falta postura aparente que a tornava quase invisível dentre tantas atraentes mulheres.
  Não percebia como seu rosto tapado pelos cabelos grandes e desgrenhados pelo vento, pois fora simplesmente desembaraçado e largado sobre os ombros, em sua cor clara chamava a atenção...Só reparava na falta do brilho, das bochechas não coradas, da  falta de cor nos lábios, dos poros entreabertos revelando rugas e deformidades comuns.
  Não costumava se envaidecer e menos ainda passar hoas a fio em prol de uma beleza fabricada.
  Em nada se achava atraente, afinal nunca fora como sua amiga Anne que era linda por natureza, esta que crescera consigo era o exemplo de feminilidade sem esforço algum. Parecia até que a natureza em excesso de gentileza gratuita resolvera lhe dar todo encanto na forma mais simples da beleza feminina.
  Ela deu  sinal para que pudesse descer do automóvel, na esperança de correr antes que perdesse ainda a segunda condução. E o fez com destreza, quase como uma pluma atravessou por entre os carros da avenida movimentada de modo que ninguém a teria percebido se não estivessse observando-na especificamente. E ele estava. Ela apenas finjiu não perceber.
  Ele a olhou quase que hipnotizado,  já aguardava a cada segundo  por sua chegada. Sabia de sua rotina pois  há tempos conhecia passo a passo todos os seus caminhos, vinha seguindo-na, e  há dias havia puxado uma conversa qualquer com intuito de conhecê-la.
  Obtendo sucesso na primeira conversa percebeu que viriam outras, e outras em outras manhãs. Assim soube de onde ela vinha, para onde sempre ia e até mudou seu itinerário, de modo a adequar-se a rotina dela.
  Ele gostava do sorriso dela, da sutileza de suas palavras, de sua voz, de seu cheiro, e por tantas outras características dela que agradavam-no ela se tornou tão necessária diariamente para ele, mesmo ela não sabendo.
  Ele sabia tudo dela, ela porém nada sabia dele.  Ele sabia até o número do telefone dela, e às vezes até a telefonava confidencialmente apenas para ouvir sua voz que em gera aos finais de semana não tinha o privilégio de ouvir pela manhã como de costume.
  Ela todavia sem saber que indesejada criatura poderia acordá-la aos fins de semana e nada dizer; ficava frustrada, furiosa e às vezes até praguejava  resto do dia pelo infortúnio.
  Naquela manhã eles se olharam diferentemente das outras manhãs. Ela se recordava quase em meio a um sonho do dia anterior. Por dentro ela sentia uma leveza disforme no estômago algo como uma ânsia incontrolável de correr em volta de si própria. Uma mistura de sensações estranhas e desconhecidas.Não é que desta vez fosse paixão, decerto que não seria, já que ela sabia bem que o que estava sentindo era só uma euforia, ansiedade ou algo parecido.
  O que ela não contava era com a sensação de sentir a cada segundo em que se aproximava daquele que há anos via no mesmo lugar, aos mesmos horários e fazendo as mesmas coisas, como em um estalo de dedos suas extremidades total e rapidamente leves, sem ponto gravitacional algum capaz de suportá-los em base firme. Seu pulsar parecia pular e suas pernas titubiavam no meio fio.
  Seu sorriso se abria involuntáriamente e seus olhos perseguiam aquilo que de fato os refletia naquele momento.
 De encontro a um rapaz, quase o dobro de sua estatura ela caminhava sem deixar transparecer a alegria incontrolável e irracional que sentira ao vê-lo. Ele a fitou novamente com o mesmo sorriso nos lábios e ainda gaguejando desejou-lhe que tivesse um bom dia. Ela o agradecera e paralelamente caminhavam até a estação mais próxima, de onde seguiriam juntos até seus respectivos locai de trabalho.
 Francis era bem aparentado, com seus quase dois metros, já homem formado, porém guardava ainda um certo ar juvenil. Seu sorriso largo em dentes bem formados e grandes em nada poderia ser comparado aos de atores e modelos de TV.  Olhos grandes, de cílios compridos e de cor de mel. Pele clara, e cabelos crespos muito claros, talves por isso usasse os sempre bem, aparados, não tivera a sorte de assemelhar-se a sua mãe ou irmã mais velha entre os irmãos com cabelos menos reveldes, mas ainda assim não eram lá de pouca beleza.
  Não eram como os cabelos de Amara, os quais ele olhava fixadamente. Jogados pelos ombros como ela sempre usava, sem passador, ou tiara, ou laço algum. Era assim também que ele admirava vê-los; na essência de sua cor, das formas de acordo como o  vento fazia os fios voarem e de como cheiravam bem.
  Eram finos e grandes. O mais bonito era ver as ondas que se formavam diante do dedilhar da garota.
  Ela era tão especial que mesmo que não os tivesse tão lindos, para ele não faria diferença alguma.
  Enfim eles se assentaram juntos e como nunca havia acontecido ele repousou sua mão direita sobre a mão esquerda dela, mas ela nem se incomodou. apenas olhou nos olhos dele e ainda sem jeito retirou-lhe a mão tentando buscar entre os pertences que carregava algo que pudesse servir-lhe de desculpas pelo comportamento arredio.
  Ele notou e percebeu que talvez fosse melhor ter mais cautela para não assustá-la. Apesar de não parar de pensar na noite anterior

Nenhum comentário:

Postar um comentário